A Última Hora, documentário produzido e narrado por Leonardo di Caprio sobre a questão ambiental, inicia-se com imagens de impacto, mostrando ações humanas e suas conseqüências para o Planeta e para a própria humanidade.
Pesca predatória, queimadas, exploração das florestas, degelo, emissão de gases poluentes na atmosfera, extinção de espécies animais, subnutrição, epidemias, maremotos, congestionamentos monstruosos... Há um pouco de tudo aquilo que estamos impingindo a Terra ao longo de toda a nossa existência, em especial desde o advento do industrialismo como sistema econômico vigente.
Levando em conta que isso representa apenas uma reduzida parte de nossa experiência como espécie, a agressão e a velocidade por nós imposta ao ambiente assumem dimensões ainda maiores. A ferocidade com que estamos devastando as florestas, poluindo o ar, jogando dejetos nos oceanos, extinguindo animais ou promovendo o degelo das regiões polares é assustadora.
Se pudéssemos comparar com situações mais tangíveis poderíamos dizer que estamos numa luta de boxe em que os oponentes são o campeão mundial dos pesos pesados num dos corners da arena onde a luta acontecerá e no outro, como seu oponente, uma criança em idade pré-escolar. Trata-se realmente de um massacre sem precedentes.
Nesse sentido cabe resgatar a frase de um dos especialistas que ao longo do filme A Última Hora, tenta nos alertar para o que estamos fazendo. E não há alarmismos, e sim uma importante constatação, a saber: “Se analisamos a história da humanidade se trata basicamente de uma relação entre os dois sistemas mais complicados da terra: a sociedade humana e a natureza.”
Ou seja, a palavra dos cientistas e estudiosos está nos dizendo que, a princípio, para a maioria das pessoas, o que estamos vivendo é um choque entre os nossos interesses e as possibilidades de realização dos mesmos que a natureza nos oferece. Nosso “complicado sistema” de vida, pautado no consumismo desenfreado e baseado não apenas na sobrevivência de cada um e de todos, mas estimulado de forma constante pelo marketing e pelas mídias (subsidiados pelas grandes corporações e pelos mais ardorosos defensores de seus interesses, os governos de cada nação) torna-se, portanto, algo a ser revisto e alterado.
E estamos mais do que atrasados nessa luta... Acreditamos por muito tempo que as fontes de matérias-primas que abastecem nossos empreendimentos eram inesgotáveis ou renováveis. Mesmo em relação aos recursos que sabíamos que iriam desaparecer da face da Terra em algumas décadas, como o próprio petróleo, agimos de forma irracional, aumentando de modo irresponsável o consumo.
E o que se prega para o futuro, apenas o catastrofismo, o fim dos tempos, o apocalipse?
Não, a mensagem não é essa. Nem tampouco prevalece entre os especialistas o desânimo e a descrença quanto à possibilidade de reverter o quadro que torna a cada novo dia irremediável (ao menos aparentemente) o aquecimento global, o efeito estufa, a destruição das calotas polares, a iminente intoxicação das fontes de água potável e alimentos...
Ainda existe a esperança e a viabilidade técnica para a reversão da destruição que vislumbramos no horizonte. O que, diga-se de passagem, não representa o final dos tempos para o planeta e o meio-ambiente, passível de auto-regeneração como já pudemos constatar ao longo de toda a história natural da Terra.
E isso fica bastante evidente a partir daquilo que nos diz outro ambientalista que participa do filme A Última Hora ao esclarecer que “Quando usamos a expressão salvar o meio-ambiente não estamos nos expressando corretamente, pois o meio-ambiente vai sobreviver, nós é que não vamos ou que talvez sobrevivamos num mundo em que não desejaremos viver”.
O que se busca então, com a preservação dos ecossistemas que garantem a vida na Terra é a sobrevivência da espécie humana? Ao agirmos em prol do meio-ambiente estamos dando continuidade ao egoísmo e a práticas autocentradas e não realmente manifestando nosso interesse na preservação de todas as vidas que compõem o tecido natural do planeta?
Penso que, de certa forma, é isso realmente o que acontece. Mas gostaria de ir um pouco além e imaginar que podemos, apesar de nossas limitações, agir num sentido plenamente coletivo – envolvendo as outras espécies e seres em nossa nova “arca de Noé” conscientes de que a diversidade é a real riqueza e de que, afinal de contas, não somos seres a par da natureza, separados e distintos de todos os outros, mas parte integrante e decisiva da mesma (sem que, com esse pensamento, estejamos nos vendo como superiores dentro do ciclo da vida natural).
E esse talvez seja um dos pontos decisivos para que as coisas venham a dar certo... Ou seja, descobrirmos que, a diferenciação que possuímos e que nos torna sobreviventes não a partir de nossos poderes e forças físicas, mas sim de nossa capacidade de entender o que temos ao nosso redor e de nos adaptarmos a tudo, criando ferramentas e meios para superarmos as adversidades que se nos impõe, se torne também a real possibilidade de superação e adequação a um novo tempo, em que a sustentabilidade prevaleça.
Até mesmo porque as pessoas não devem pensar que o que pregam os ambientalistas é o retorno as cavernas, a uma alimentação a base de raízes e frutas colhidas nas árvores e o abandono daquilo que constituímos ao longo de toda a história humana. O que pensam é que temos que racionalizar a situação e rever ações e posturas que tornam insustentável a continuidade da vida a médio prazo.
E é nesse ponto que o filme A Última Hora surpreende e encanta. Não se tratando apenas de uma produção que poderia se juntar a todos os filmes apocalípticos de que temos notícias. Não basta apenas trazer a tona as más notícias e deixar as pessoas com medo e descrentes quanto ao futuro que se avizinha.
É necessário mostrar que as alterações não são impossíveis, que estão sendo pensadas e pesquisadas, que podem se tornar realidade se quisermos e batalharmos nesse sentido, se agirmos – ainda que individualmente, o que não dá para as pessoas uma real sensação de que as coisas realmente estão mudando (e para isso é sempre interessante recordar aquele velho ditado popular, “de grão em grão, a galinha enche o papo”).
Troque as lâmpadas incandescentes de sua casa por fluorescentes, mais econômicas. Não desperdice água. Plante árvores no seu jardim e em seu bairro. Recicle os produtos passíveis de reutilização. Não compre apenas por impulso. Escolha políticos que tenham preocupação com o meio-ambiente (não apenas da boca para fora, mas demonstrada publicamente através de ações e projetos). Utilize energias alternativas como a eólica ou a solar. Ande menos de carro e mais de bicicleta ou de transporte coletivo. Compre produtos de sua região e de empresas próximas para diminuir o tráfego de caminhões e veículos poluentes.
Há tantas coisas pequenas que podemos fazer e que, ao serem somadas enquanto esforço coletivo, ao final, promovem economia e dão mais fôlego ao meio-ambiente que não podemos simplesmente lavar as mãos e dizer que o que acontece no planeta não é também nossa responsabilidade. Pensem nisso!
A Última Hora nos revela o que a ciência tem de informações mais recentes e contundentes a respeito da questão ambiental nos últimos tempos. O filme atesta aquilo que temos visto nas manchetes dos jornais como desastres ambientais isolados, ocorrendo em pontos distantes e distintos, como sendo peças de um quebra-cabeças de grande dimensões, cujas peças, ao serem todas unidas e colocadas sobre a mesa, diante de nossos olhos, prenunciam o desaparecimento de todos e de cada um de nós... Imperdível!
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